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quarta-feira, 13 de junho de 2018

Conan e a Era Hiboriana


Muito antes de Terras Médias. Bem antes de portas de armários se abrirem, ou de tronos de ferro serem disputados, houve uma época. Uma época de magia e aventuras, perdida num intervalo de tempo entre épocas conhecidas, na qual a espada era lei, e a coragem um requisito básico para a sobrevivência.
A Era Hiboriana... A era da Espada Selvagem de Conan, o bárbaro.


Durante a “grande depressão” estadunidense, no Texas, um jovem escritor chamado Robert Ervin Howard, brigava para pagar suas contas escrevendo vários contos que eram publicados nas conhecidas pulp fictions.


Na época alguns de seus personagens já eram até um pouco conhecidos, como Salomão Kane, e Kull da Valúsia, ambos criados em 1928, e publicados nas páginas da revista Weird Tales .

Robert Ervin Howard - O genial criador da Era Hiboriana

A mesma revista que em 1932 publica um conto chamado “A Fenix e a Espada”. E pela primeira vez o mundo travava contato com Conan da Ciméria, e junto com ele, a Era Hiboriana.

Versão original de "A Fênix e a Espada"
Um mundo meticulosamente imaginado por Robert Howard com suas nações, cada qual com uma cultura toda própria, mas de ligações bem explícitas a nações que fizeram ou fazem ainda parte da história. O cenário perfeito para a que a mente do escritor texano pudesse fluir sua imaginação, e tornar as aventuras do seu novo personagem, o mais verossímeis e facilmente assimiláveis pelos leitores.

O mapa completo do mundo pensado por Robert Howard

Consolidando com isto gênero que anos depois passaria a ser chamado de “espada e magia”.
Histórias que até então nunca haviam sido abordadas daquela forma, seja pela crueza e o refinamento de detalhamento das ações de seus protagonistas, ou pelas metáforas nelas aplicadas como feiticeiros com claras ambições políticas e de poder.
Contudo, em 11 de junho de 1936, Robert Howard comete suicídio - dizem não ter suportado a morte da própria mãe - e com ele todo mundo de possibilidades parecia ter sido também enterrado.
Bem...talvez não.
Pois no início dos anos 70, um jovem roteirista de HQ’s chamado Roy Thomas, fã dos contos de Howard, tomou a frente do projeto de trazer para os quadrinhos os personagens criados pelo escritor texano.

Roy Thomas
Mas se por um acaso você que está lendo possa estar achando que a coisa foi moleza para Roy Thomas, devo dizer que como Conan, nosso herói da vida real teve que enfrentar grandes desafios para conseguir seu intento. Pois não é que a diretoria da Marvel na época não acreditava que pudesse haver ali algo “economicamente viável”. E não queria financiar a compra dos direitos sobre a obra de Robert Howard.


Sem falar que por ser muito jovem e ter acabado de suceder Stan Lee como editor-chefe, não era visto com bons olhos por alguns membros da “velha-guarda”. Oque obrigou Thomas a uma atitude até então nunca feita. Abrir mão de parte de seus proventos para que a Marvel adquirisse os direitos sobre os personagens de Howard. Sim, os personagens, pois não apenas o cimério, como Kull, Bran Mark Morn, Salomão Kane, Valéria e Sonja vinham juntos.
Até que em 1974, Thomas desiste de ser editor, e volta, para a felicidade das artes, a ser escritor em tempo integral, surgindo então no mesmo ano o primeiro número de “A Espada Selvagem de Conan”.

A Torre do Elefante - Um dos contos originais de Howard que foi adaptado para os quadrinhos

E aí sob sua batuta, o já incrível universo de Howard não apenas foi apresentado a uma nova geração, tendo vários contos originais adaptados para a nova mídia, como foi sendo ampliado e amalgamado de uma forma que nem seu criador tinha pensado.
Como? Bom, é só lembrarmos, por exemplo, que aquele que muitos defendem como sendo o grande amor da vida do cimério, a única mulher que virou de fato a cabeça do bárbaro, Sonja, originalmente não fazia parte do mundo hiboreano. Tendo sua origem refeita por Thomas, na qual vinha do distante reino de Hirkania ao leste.

Sonja - A hirkania que virou a cabeça do cimério
Além de delinear uma linha temporal mais clara para a vida de Conan, já que a bem da verdade lá em “A Fenix e a Espada”, o cimério já era rei de Aquilônia. Ou seja, quase todas as suas incríveis aventuras são na verdade suas memórias.
E para representar todo este mundo fantástico Thomas se cercou de alguns dos melhores desenhistas que o mundo já teve.

A arte da revista explicitava oque Howard apenas descreveu em seus contos

Dick Giordano, Alfredo Alcala, Jim Starlin e até Neal Adams foram alguns dos mestres que deram rosto, força e fúria para todo aquele mundo. Porém, em se tratando de Conan, ninguém conseguiu melhor representar em imagens oque Robert Howard imaginou que os irmãos John e Sal Buscema.

John e Sal Buscema
O primeiro mais detalhista, lembro bem, era o preferido da maioria dos leitores. O segundo com um estilo de traço mais simples, mas não menos refinado, pelo menos para mim, sempre foi oque melhor conseguiu traduzir em imagens as sequências de ação, talvez justamente em razão deste tal “traço simples” ao qual me referi.
Mas isto era na parte interna da revista, pois suas capas...

Algumas das incríveis artes das capas da "Espada Selvagem..."
Ahhhh... As capas de “A Espada Selvagem de Conan” configuram uma capítulo a parte. Pois por melhor que fosse o trabalho de arte interno, oque se via nas capas da revista - ao menos em sua época dourada - eram verdadeiras obras de arte, que na banca de jornal penduradas se destacavam de tudo mais que ali estava. Icônicas capas com a assinatura de gente como Joe Jusko e Bob Larkin, mas que tinham em Earl Norem seu principal nome.

Earl Norem
E todo o sucesso alcançado, lógico, chamou a atenção de Hollywood, que em 2 de abril de 1982 fazia o cimério aportar nos cinemas, ganhando o rosto de um até então praticamente desconhecido, Arnold Schwarzenegger.

Poster promocional do filme de 1982
Aqui no Brasil, “A Espada Selvagem...” teve uma vida bastante longeva, se comparada a outras publicações do gênero, num total de 205 edições que foram publicadas de forma ininterrupta de 1984 até 2001.

A 1ª edição brasileira de "A Espada Selvagem de Conan".
Trazendo não apenas as aventuras do bárbaro cimério, como de todos os outros personagens saídos da mente de Howard.


Após isto, Conan voltaria a ser publicado em outros títulos, mas nenhum outro conseguiu repetir a vitalidade, e ter a qualidade de texto da “Espada Selvagem...” que até hoje permanece como um ótimo exemplo de como unir o entretenimento a um texto inteligente, responsável direto sim - até por força de seus longos trechos narrativos - por estimular o gosto pela leitura em toda uma geração.

A última edição brasileira
Permanecendo até hoje como a principal fonte inspiradora de escritores do gênero - aspirantes ou profissionais -, ao criarem mundos fantásticos, com belas mulheres, feiticeiros, reinos misteriosos e muita aventura, mas que no fim das contas, por melhor que sejam, ainda sim, estão prestando tributo a genial mente de Robert Ervin Howard e sua criação...Conan e a Era Hiboriana!














































Um comentário:

  1. Não conhecia... amei... Suas publicações são muito boas ... Parabéns José Carlos Sandor !

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