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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Patrulha Estelar (parte 2)

            Em meu último post, narrei como se deu o começo da saga do Yamato. E como a ideia de Yoshinobu Nishizasaki foi transposta para a telinha.
             Só que como havia dito, as coisas não foram assim tão fáceis...
            Pesquisas de satisfação eram feitas com o público alvo, pela rede de tevê que veiculava a animação, e todas estas pesquisas apontavam para um baixíssimo índice de aceitação das aventuras da tripulação do Yamato. É bom lembrar que na época (1978), a medição eletrônica de audiência era algo que estava engatinhando, mesmo no Japão, sendo assim tais pesquisas eram fundamentais para as emissoras saberem o que fazer com sua programação.
                Pois bem, diante do altíssimo índice de rejeição veio a ordem para que a saga deixasse de ser exibida. E sendo assim houve a “matança de todo o elenco” no longa Adeus Yamato, que contava a mesma estória do Cometa Império, que tão bem conhecemos aqui no Brasil.

Zordar, líder do Cometa Império, em embate de palavras com a tripulação do Yamato.

                O longa, porém, gerou uma grande comoção, algo nunca visto antes, e a rede de tevê, assim como a produtora do desenho foram bombardeadas por cartas, telegramas e telefonemas, e foi aí que todos se deram conta de que suas preciosas pesquisas estavam sendo feitas com o público errado, ou seja crianças, pois o desenho na verdade estava atingido um público bem diferente, composto em sua maioria por adolescentes e adultos.
                O plano de Nishizaki tinha dado certo e sua ideia de fato tinha rompido barreiras. Sendo assim, um nova série de tevê foi anunciada, aproveitando os elementos do longa, e estabelecendo um retcon para a saga.
                Agora era arregaçar as mangas (eu disse mangas e não mangás), e partir para novas aventuras, e foi com este espírito que foi feito as pressas mais um longa.


                Em “Yamato - A Nova Viagem”, a saga começa a tomar novos contornos, pois é neste longa que temos pela primeira vez Deslock, o antigo inimigo, combatendo ao lado da tripulação do Yamato um inimigo em comum, o Império Golba, que invade o que tinha restado de Gamillon para minerar elementos necessários para a propulsão de suas naves, e ameaçando Stasha, a salvadora da Terra da primeira série de tevê, que morava em Scandar, planeta irmão de Gamilon, junto com Alex Wildstar (Mamoru Kodai no original) e sua filha Sasha. Também é neste longa que o público é apresentado a um novo tema musical, feito especialmente para os caças Tigres Negros.
Yamato - A Nova Viagem

                Mas a história da luta contra os Golbas não terminaria aí, e para a Patrulha Estelar estava guardado aquele que talvez tenha sido seu maior triunfo fora das telas. O ano era 1980, e para manter a série em alta, foi realizado mais um longa-metragem, desta vez feito diretamente para o cinema. Em “Para Sempre Yamato”, o Império Golba, cheio de ódio no coração, após a derrota sofrida em Scandar, invade a Terra, e em pouco tempo toma conta do planeta, e lógico cabe ao Yamato e seus tripulantes salvarem a humanidade mais uma vez, e sem Deslock, que não dá as caras neste longa.
                Só que o grande feito de “Para Sempre Yamato” ocorreu fora das quatro linhas de uma folha de papel, pois foi este longa-metragem que marcou uma outra virada na história da animação nipônica, por ter conseguido ser a maior bilheteria daquele ano na terra do sol nascente, vencendo com grande vantagem o segundo colocado, que era nada mais, nada menos, que o todo-poderoso “O Império Contra-Ataca” da franquia Star Wars.


                Cheios de moral, os produtores e todos os demais envolvidos, se voltaram novamente para uma nova série de tevê, uma nova novelinha, e eis que em 1981 chega a terceira série, conhecida aqui por nós brazucas como “A Crise do Sol”, na qual um míssil-destruidor-de-planetas de Galman-Gamilon, o novo império de Deslock, sai do curso após uma batalha contra a Federação Polar (Bolar na versão estadunidense) do Primeiro Ministro Ben-Lazi, indo atingir justamente nosso sol, que entra então num processo de supernova. O único problema que não se esperava, fosse que alguns dos investidores, tirassem parte do dinheiro que seria colocado na série, que teve de ser encurtada para apenas 26 episódios, quando os planos originais previam cerca de 47. E a parte musical ainda contou com o acréscimo de mais duas outras canções.
                Ainda assim, a aceitação do público a mais esta aventura foi excelente, e foi nesta época que a animação passou a alçar voos para além das fronteiras do arquipélago japonês, sendo exibidas nas tevês de diversos outros países, inclusive os Estados Unidos.


                Aqui vale comentar alguns pontos.
O primeiro e mais obvio é a mudança dos nomes dos personagens, que foram “ocidentalizados”.
E o segundo e talvez mais polêmico, foi a mudança do nome da nave de Yamato para Argo. Algo que faz muito fã de anime torcer o nariz até hoje, mas que tem de se admitir os norte-americanos souberam contornar com muita, digamos, malandragem. Pois apesar do corte do prologo da primeira série, que mostrava os últimos momentos do encouraçado Yamato na Segunda Guerra, o navio ao contrário do que muitos pensam chega a ser citado como Yamato nos dois primeiros episódios, sendo que uma mexida no texto, juntamente com uma boa dublagem, resolveram por assim dizer as coisas no fim deste segundo episodio, quando o Capitão Avatar (Okita no original) diante de sua tripulação declara que a nave seria rebatizada para Argo, em homenagem aos argonautas da mitologia grega. Contudo, este foi um detalhe que passou batido pela dublagem brasileira, que acabou desde o princípio chamando a nave pelo nome dado pelos norte-americanos.
Polêmicas a parte, a série em seus bastidores, ainda que mega bem sucedida, começava a dar sinais de desgastes em alguns de sues realizadores, e em 1983, é feito aquele que seria por muitos anos o capítulo final da saga da Patrulha Estelar.
Em “Final Yamato”, o título original até mesmo no Japão, já evidenciando a importância que o mercado externo já tinha, os membros da Patrulha Estelar tem de enfrentar o Império Dinguil, que logo no começo do longa de cerca de três horas de duração, devasta Galman-Gamilon, ao sair do hiper-espaço com sua mega-fortaleza trazendo a reboque o planeta Aquarius todo composto por água, e que inunda por completo o lar de Deslock que é dado como morto, e que se volta para a Terra a fim de conquista-la. O longa também é marcado pela “ressurreição” do Capitão Avatar, dado como falecido devido a radição, desde a primeira série de tevê. E teve um dos trabalhos de arte mais esmerados que vi numa animação até mesmo para os padrões cinematográficos mais exigentes de nossos dias.

Final Yamato

Após várias batalhas, entre elas uma antológica sequencia de faroeste no espaço, com a utilização pelos dinguils de cavalos-robôs, ideia esta que seria utilizada anos depois no desenho Galaxy Rangers. O Yamato a beira da destruição certa aguarda pelo ataque final de seus inimigos, quando do nada surge Deslock, que ataca os dinguils, mais uma vez reforçando a teoria de que os gamilons foram pensados baseados nos norte-americanos, ou seja, o antigo inimigo que se torna um valioso aliado. Contudo, mesmo após a vitória sobre o Império Dinguil, a Terra não estava salva, pois Aquarius vinha em rota de colisão com nosso planeta.
E qual foi a solução?
Explodir o Yamato, usando para isto a arma de movimento de ondas, que retirava energia direto do motor, que teve sua boca tampada, e que ao ser acionada, criou uma onde de choque que conteve as águas de Aquarius, que se transformaram num grande asteroide de gelo, e sepulcro para o todo poderoso Yamato.

O Yamato naquele que seria seu sacrifício final.

Mas se você acha que a saga termina aqui, está muito enganado. No próximo capítulo vou contar sobre a chegada da série ao nosso país, os vários boatos que ocorreram sobre ela durante os anos, as brigas nos tribunais entre seus criadores, e seu ressurgimento nos anos 2000. Até lá!

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