Páginas

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Comando Delta

  Produzido pelo Canon Group de Menahem Golan e Yoram Globus, famosos por suas produções B de baixo orçamento, pouca estória e muita ação, este filme é surpreendente por diversos motivos.
                                              

 Oque a princípio parecia uma simples estória sobre um avião sequestrado por terroristas islâmicos, se mostrou uma trama absurdamente bem construída, baseada não apenas em sequências de ação espetaculares, mas em diálogos primorosos a cargo de um elenco de coadjuvantes sensacional, que possuía veteranos como Martin Balsam, Shelley Winters e Lee Marvin (aqui na última atuação de sua carreira, num papel que a princípio seria de Charles Bronson) ,além outros nomes de peso como a alemã Hannah Schigula, atriz de filmes considerados cults, de arte (fato que hoje talvez hoje possa não parecer grande coisa, mas para quem é da época, se lembra bem do abismo que existia entre estes filmes e o chamado "cinemão").
                                       
Hannah Schigula vivendo a comissária de bordo Ingrid

  Que mesclados a astros dos filmes da Canon como Steve James (American Ninja) , atores que viriam a se tornar cults como Robert Forster (Jackie Brown), outros que já eram conhecidos do cinema de truculência como Bo Svenson (Kill Bill, Bastardos Inglórios), compunham um dos mais heterogêneos elencos que já vi.
                               
Steve James, Lee Marvin e Chuck Norris, o Comando Delta

 Um filme que teve a coragem na época de mostrar a dualidade na personalidade dos terroristas, que apesar dos atos de violência cometidos, os intercalam com gestos de respeito a algumas condições de seus reféns, e em momento algum são retratados como vilões cartunescos.
 Fora isto, ainda temos o sensacional tema do maestro Alan Silvestri (De Volta Para o Futuro, Predador) que pontua vários momentos do filme, criando a ambientação perfeita para suas cenas de ação.

                       

 Sem falar na sequência inicial, que é a reprodução de um fato real, a tentativa de resgate de reféns norte-americanos no Irã, que foi abortada após um acidente no qual um helicóptero Sea Stallion caiu sobre um avião Hércules C130.
                          
                          The Delta Force - Opening

                                 
                                                                            

                                             


  Ahhh sim! Claro. E tinha o Chuck Norris (risos) no papel do major McCoy fazendo aquilo que melhor saber fazer, mas em alguns momentos demonstrando algo a mais do que seu usual, que ainda que não se consiga identificar com exatidão engrossa o caldo que faz de Comando Delta um  filme diferenciado.
                                        
Norris como  McCoy - atuação um tanto diferenciada
  Um projeto tão importante para a Canon na época que foi dirigido pelo próprio Menahem Golan.
 Por tudo isso e talvez mais alguma coisa este seja sem dúvida um filme diferente, pois é clichê do mais alto nível quando tem de ser, mas com um ótimo de desenvolvimento no tratamento das relações interpessoais de seus personagens, algo raro para época, e mais raro em se tratando da Canon Group.
 Claro, que após o sucesso as inevitáveis sequências acabaram vindo, uma mais fraca que a outra, mas nada que pudesse apagar o brilho deste filme diferenciado, bastante realista para época em que foi feito, e que sem dúvida passou com louvor na prova do tempo.
                                          
                 The Delta Force Ending part 1

                                          

                                                                 
                                      
                                     

                    
                       

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Patrulha Estelar (parte 3)

                        Olá gente!
            No post anterior, contei como a saga da Patrulha Estelar começou a voar para além do arquipélago japonês.
            Voos estes que a trouxeram até um certo país da América do Sul chamado Brasil.
            O ano era 1983. E enquanto no Japão a saga se encerrava com o longa “Final Yamato”, aqui a recém-inaugurada Rede Manchete inundava a tela da tevê com uma verdadeira enxurrada de novas animações, e entre elas a saga da Patrulha Estelar.

Patrulha Estelar / Star Blazers / Uchü Senkan Yamato, vários nomes e o mesmo sucesso

            Lembro-me como se fosse hoje, quando um amigo me falou sobre o tal desenho, e devo confessar que não dei muita importância para aquilo naquele primeiro momento, até por que não conseguia assistir Patrulha Estelar nesta época, pura e simplesmente, pois só havia uma tevê em casa nesta época, e a Rede Manchete o transmitia justamente na hora em que minha avó religiosamente sentava para ver todas as novelas existentes, problema, creio eu, que muitos enfrentavam também na época.
            Brincadeiras e lembranças à parte, a verdade era que seja por imposição da censura (ainda era a época da ditadura militar), ou seja, por já saberem da história do anime no exterior, sua exibição era feita em torno das 19hs. Horário este que passou a ser ainda mais tarde, por volta das 19:40hs quando os índices de audiência começaram a subir, e Patrulha Estelar foi se tornando uma espécie de “novela de quem não gostava de novela”, fazendo até mesmo o todo-poderoso e indelével “Jornal Nacional” se ver forçado a adiar seu início devido aos altos índices de audiência das aventuras da tripulação do Yamato.
            Aventuras estas que no começo só eram transmitidas para o estado do Rio de Janeiro, o que criou uma grande confusão na cabeça dos fãs, pois a primeira série de tevê, “Busca Por Iscandar”, seja lá por qual motivo, só foi transmitida nesta época, fazendo os fãs do restante do país ficarem restritos ao “Cometa Império” e “A Crise do Sol”, e criando a já citada confusão, na qual muita gente de pé junto dizia ter assistido o começo de tudo, enquanto outros diziam justamente o contrário. Além disto, houve o fato das duas primeiras séries terem sido trazidas através do distribuidor norte-americano, o que lógico gerou aqueles “probleminhas” com nomes que tão bem conhecemos.

Patrulha Estelar 2 - O Cometa Império, a série que conquistou o Brasil.

            Mas trocas de nomes a parte, a grande verdade é que Yamato repetiu aqui no Brasil o mesmo sucesso que alcançou em outras partes do mundo, e mais uma vez provando que a ideia de Nishizaki em se dar um passo a frente na visão que se tinha sobre desenhos animados estava correta. Tendo a nata da dublagem de nosso país, que teve de se desdobrar para dar conta do enredo, se manteve em transmissão continua até março de 1987, apenas trocando de horário quando dava na cabeça dos programadores, mas nesta época já sendo veiculada como uma atração à parte, e não mais atrelada a algum programa infantil.
            E se existe algo que se possa criticar desta época em minha opinião foi a falta de visão, até mesmo comercial, de seus exibidores que em momento algum sequer cogitaram de trazer seus longas-metragens para exibição aqui para nós. Isto sem falar no grande enigma dos originais perdidos, já que com o fim da Rede Manchete ninguém sabe onde foram parar os “originais” com a nossa dublagem. Reza uma lenda urbana de que tais originais teriam ficado de posse da Herbert Richers, o estúdio responsável pela dublagem, mas isto nunca foi realmente confirmado.
            Pois bem, os anos se passam e chegamos então aos anos 90. Época que a chegada de informações aqui para nós, começou a se tornar um pouco mais confiável, e na qual muitos de nós passaram ter o conhecimento real da importância que Yamato tinha no restante do mundo, mas também nos víamos a volta com os mais variados boatos.

Yamato 2520, a ideia que não deu muito certo.

            Primeiro os fatos. No fim de 1994 é anunciada por parte de Yoshinobu Nishizaki uma nova aventura feita direta para o mercado de vídeo. Era Yamato 2520, a tentativa de voltar a ativa. Só que ideia não foi assim tão bem recebida pelo público que queria a sequência das aventuras da tripulação original, e não aquele novo universo, centenas de anos depois sem a menor ligação com a saga original. E como se isto não bastasse, Nishizaki foi processado por Leiji Matsumoto, por violação de direitos autorais dando início a uma nova saga de quase vinte anos, só que de lutas nos tribunais. Sendo que em última análise, Yamato 2520 foi deixado inacabado depois que apenas três episódios foram liberados.

Nishizaki (acima) e Matsumoto, disputa nos tribunais

            Foi também nesta época que começaram a surgir os primeiros boatos sobre a realização de um filme live aciton, sendo que estes variavam desde a compra pelos estúdios Disney sobre os direitos do anime (diziam até que a estória seria recriada usando o cruzador USS Arizona, afundado pelos japoneses também na 2ª Grande Guerra). Até aquela que diz que tal versão, na verdade, seria um projeto pessoal do diretor Roland Emerich (Soldado Universal/ Independence Day). Algo que pessoalmente sempre acreditei, pois a influência de Yamato em Independece Day é algo gritante, inclusive no design dos caças dos alienígenas, que são extremamente semelhantes aos caças do Império Golba de “Yamato – A Nova Viagem”.


Indepence Day, influências claras de Yamato, tanto no design, quanto no enredo.


                 
                Mas ao que parece a briga entre Nishizaki e Matsumoto acabou enterrando os sonhos do diretor, e por um longo tempo os de todos nós também.
            Sonhos estes que só retornariam por volta de 2009, quando as batalhas nos tribunais se encerraram com a vitória de Nishizaki, e foi então anunciado a retomada da saga, e do jeito que os fãs sonhavam, ou seja, com a tripulação original, ou pelo menos aqueles sobreviveram.


            Mas como ainda há muito que ser dito, acho melhor dar um tempo por aqui, e deixar para um próximo post (ou próximos) o retorno triunfal do Yamato, o tão aguardado live action e o incrível legado que foi deixado por esta inesquecível saga.
            Até lá!


           

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Patrulha Estelar (parte 2)

            Em meu último post, narrei como se deu o começo da saga do Yamato. E como a ideia de Yoshinobu Nishizasaki foi transposta para a telinha.
             Só que como havia dito, as coisas não foram assim tão fáceis...
            Pesquisas de satisfação eram feitas com o público alvo, pela rede de tevê que veiculava a animação, e todas estas pesquisas apontavam para um baixíssimo índice de aceitação das aventuras da tripulação do Yamato. É bom lembrar que na época (1978), a medição eletrônica de audiência era algo que estava engatinhando, mesmo no Japão, sendo assim tais pesquisas eram fundamentais para as emissoras saberem o que fazer com sua programação.
                Pois bem, diante do altíssimo índice de rejeição veio a ordem para que a saga deixasse de ser exibida. E sendo assim houve a “matança de todo o elenco” no longa Adeus Yamato, que contava a mesma estória do Cometa Império, que tão bem conhecemos aqui no Brasil.

Zordar, líder do Cometa Império, em embate de palavras com a tripulação do Yamato.

                O longa, porém, gerou uma grande comoção, algo nunca visto antes, e a rede de tevê, assim como a produtora do desenho foram bombardeadas por cartas, telegramas e telefonemas, e foi aí que todos se deram conta de que suas preciosas pesquisas estavam sendo feitas com o público errado, ou seja crianças, pois o desenho na verdade estava atingido um público bem diferente, composto em sua maioria por adolescentes e adultos.
                O plano de Nishizaki tinha dado certo e sua ideia de fato tinha rompido barreiras. Sendo assim, um nova série de tevê foi anunciada, aproveitando os elementos do longa, e estabelecendo um retcon para a saga.
                Agora era arregaçar as mangas (eu disse mangas e não mangás), e partir para novas aventuras, e foi com este espírito que foi feito as pressas mais um longa.


                Em “Yamato - A Nova Viagem”, a saga começa a tomar novos contornos, pois é neste longa que temos pela primeira vez Deslock, o antigo inimigo, combatendo ao lado da tripulação do Yamato um inimigo em comum, o Império Golba, que invade o que tinha restado de Gamillon para minerar elementos necessários para a propulsão de suas naves, e ameaçando Stasha, a salvadora da Terra da primeira série de tevê, que morava em Scandar, planeta irmão de Gamilon, junto com Alex Wildstar (Mamoru Kodai no original) e sua filha Sasha. Também é neste longa que o público é apresentado a um novo tema musical, feito especialmente para os caças Tigres Negros.
Yamato - A Nova Viagem

                Mas a história da luta contra os Golbas não terminaria aí, e para a Patrulha Estelar estava guardado aquele que talvez tenha sido seu maior triunfo fora das telas. O ano era 1980, e para manter a série em alta, foi realizado mais um longa-metragem, desta vez feito diretamente para o cinema. Em “Para Sempre Yamato”, o Império Golba, cheio de ódio no coração, após a derrota sofrida em Scandar, invade a Terra, e em pouco tempo toma conta do planeta, e lógico cabe ao Yamato e seus tripulantes salvarem a humanidade mais uma vez, e sem Deslock, que não dá as caras neste longa.
                Só que o grande feito de “Para Sempre Yamato” ocorreu fora das quatro linhas de uma folha de papel, pois foi este longa-metragem que marcou uma outra virada na história da animação nipônica, por ter conseguido ser a maior bilheteria daquele ano na terra do sol nascente, vencendo com grande vantagem o segundo colocado, que era nada mais, nada menos, que o todo-poderoso “O Império Contra-Ataca” da franquia Star Wars.


                Cheios de moral, os produtores e todos os demais envolvidos, se voltaram novamente para uma nova série de tevê, uma nova novelinha, e eis que em 1981 chega a terceira série, conhecida aqui por nós brazucas como “A Crise do Sol”, na qual um míssil-destruidor-de-planetas de Galman-Gamilon, o novo império de Deslock, sai do curso após uma batalha contra a Federação Polar (Bolar na versão estadunidense) do Primeiro Ministro Ben-Lazi, indo atingir justamente nosso sol, que entra então num processo de supernova. O único problema que não se esperava, fosse que alguns dos investidores, tirassem parte do dinheiro que seria colocado na série, que teve de ser encurtada para apenas 26 episódios, quando os planos originais previam cerca de 47. E a parte musical ainda contou com o acréscimo de mais duas outras canções.
                Ainda assim, a aceitação do público a mais esta aventura foi excelente, e foi nesta época que a animação passou a alçar voos para além das fronteiras do arquipélago japonês, sendo exibidas nas tevês de diversos outros países, inclusive os Estados Unidos.


                Aqui vale comentar alguns pontos.
O primeiro e mais obvio é a mudança dos nomes dos personagens, que foram “ocidentalizados”.
E o segundo e talvez mais polêmico, foi a mudança do nome da nave de Yamato para Argo. Algo que faz muito fã de anime torcer o nariz até hoje, mas que tem de se admitir os norte-americanos souberam contornar com muita, digamos, malandragem. Pois apesar do corte do prologo da primeira série, que mostrava os últimos momentos do encouraçado Yamato na Segunda Guerra, o navio ao contrário do que muitos pensam chega a ser citado como Yamato nos dois primeiros episódios, sendo que uma mexida no texto, juntamente com uma boa dublagem, resolveram por assim dizer as coisas no fim deste segundo episodio, quando o Capitão Avatar (Okita no original) diante de sua tripulação declara que a nave seria rebatizada para Argo, em homenagem aos argonautas da mitologia grega. Contudo, este foi um detalhe que passou batido pela dublagem brasileira, que acabou desde o princípio chamando a nave pelo nome dado pelos norte-americanos.
Polêmicas a parte, a série em seus bastidores, ainda que mega bem sucedida, começava a dar sinais de desgastes em alguns de sues realizadores, e em 1983, é feito aquele que seria por muitos anos o capítulo final da saga da Patrulha Estelar.
Em “Final Yamato”, o título original até mesmo no Japão, já evidenciando a importância que o mercado externo já tinha, os membros da Patrulha Estelar tem de enfrentar o Império Dinguil, que logo no começo do longa de cerca de três horas de duração, devasta Galman-Gamilon, ao sair do hiper-espaço com sua mega-fortaleza trazendo a reboque o planeta Aquarius todo composto por água, e que inunda por completo o lar de Deslock que é dado como morto, e que se volta para a Terra a fim de conquista-la. O longa também é marcado pela “ressurreição” do Capitão Avatar, dado como falecido devido a radição, desde a primeira série de tevê. E teve um dos trabalhos de arte mais esmerados que vi numa animação até mesmo para os padrões cinematográficos mais exigentes de nossos dias.

Final Yamato

Após várias batalhas, entre elas uma antológica sequencia de faroeste no espaço, com a utilização pelos dinguils de cavalos-robôs, ideia esta que seria utilizada anos depois no desenho Galaxy Rangers. O Yamato a beira da destruição certa aguarda pelo ataque final de seus inimigos, quando do nada surge Deslock, que ataca os dinguils, mais uma vez reforçando a teoria de que os gamilons foram pensados baseados nos norte-americanos, ou seja, o antigo inimigo que se torna um valioso aliado. Contudo, mesmo após a vitória sobre o Império Dinguil, a Terra não estava salva, pois Aquarius vinha em rota de colisão com nosso planeta.
E qual foi a solução?
Explodir o Yamato, usando para isto a arma de movimento de ondas, que retirava energia direto do motor, que teve sua boca tampada, e que ao ser acionada, criou uma onde de choque que conteve as águas de Aquarius, que se transformaram num grande asteroide de gelo, e sepulcro para o todo poderoso Yamato.

O Yamato naquele que seria seu sacrifício final.

Mas se você acha que a saga termina aqui, está muito enganado. No próximo capítulo vou contar sobre a chegada da série ao nosso país, os vários boatos que ocorreram sobre ela durante os anos, as brigas nos tribunais entre seus criadores, e seu ressurgimento nos anos 2000. Até lá!