Neste
blog já foram realizados alguns artigos contandoa história de ícones da cultura
pop. John Williams, Leiji Matsumoto, Michael Reaves, entre outros, já estiveram
por aqui...
Mas
ainda havia um nome, uma lenda. O cara que testemunhou mais eventos históricos
que a Rainha Elizabeth II, e que até o fim de sua passagem por este plano se
manteve ativo nas artes, as vezes de formas que até parte de seus fãs pouco ou
nada imaginam.
Então
os convido a embarcar numa das maiores jornadas da humanidade, a vida do ícone
Christopher Lee!
Christopher
Frank Carandini Lee, nasceu 22 de maio de 1922, no distrito de Belgravia, Londres.
Filho de Geofrey Trollope Lee (um oficial do exército britânico), com Estelle
Marie Carandini (uma condessa italiana), desde o nascimento, pela sua árvore
genealógica pode ser descrito como um indivíduo de “caráter histórico”, pois
era descendente direto do imperador Carlos Magno por parte de mãe, e do general
confederado Robert E. Lee por parte de pai.
Ainda
criança conheceu o príncipe Yusopov e o Grão-Duque Dimtri Pavlovich, os
assassinos do monge Rasputin, papel que mais tarde desempenharia. E aos
dezessete anos testemunhou a última execução pública pela guilhotina na França.
Acha
que está bom? Calma, pois a Segunda Guerra Mundial chegou, que como muitos
outros jovens Lee ingressou nas forças armadas de seu país para lutar. E seus
feitos durante o conflito por si só já dariam um filme, ou vários.
Por
um pequeno problema de visão não pode se tornar piloto, mas ainda assim, se
tornou oficial de inteligência da “Patrulha do Deserto de Longo Alcance”, a
percursora do famoso SAS (Special Air Services). Lutando contra os nazistas no
norte da África, onde chegava a realizar até cinco missões num único dia.
O jovem Lee durante a Segunda Guerra Mundial |
Durante
esta época também esteve na retomada da Sicília, impediu com extrema psicologia
um motim entre suas tropas, e no tempo livre escalou o Monte Vesúvio apenas
três dias antes deste entrar em erupção.
Diante
disto tudo, Christopher Lee foi recrutado para o chamado “Serviço Executivo de
Operações Especiais”, um departamento secreto, ligado diretamente ao gabinete
do Primeiro Ministro Winston Churchill, e que foi o embrião para a criação
posterior do MI-6, o serviço secreto britânico, sendo que após o conflito ainda
passou um tempo caçando nazistas.
E
se lembram da árvore genealógica de Lee? Pois então...
Christopher
tinha um primo, que após passagem pela marinha também durante a guerra, sonhava
em ser escritor.
Seu
nome? Ian Fleming!
Ian Fleming era primo de Christopher Lee |
Sim,
Christopher Lee e Ian Fleming, o criador de James Bond, eram primos em primeiro
grau. E sim, é plenamente plausível se afirmar que a vida do ator durante a
guerra e seus feitos foram a grande inspiração para a criação do espião mais
famoso do mundo.
Como o vilão Scaramamga |
Papel
para o qual inclusive o primo fez campanha para que fosse seu, mas o perfil de
Christopher já atrelado na época a filmes de terror, acabou fazendo o papel
cair no colo de Sean Connery. O que lógico, não impediu o ator de anos mais
tarde como todos sabemos, participar da franquia como o vilão Scaramanga em
“007 contra o Homem com a Pistola de Ouro”.
Ah!
E sabem os filmes de terror citados?
Christopher
Lee se tornou um verdadeiro sinônimo deles!
Obvio
que você que está lendo, tem conhecimento do talvez mais lembrado papel da
carreira do ator como o Conde Drácula nos filmes da produtora Hammer.
Mas
seu portfólio de terror também inclui outras produções do gênero como “A Múmia”
e “O Monstro de Frankstein”, além do controverso, censurado e quase banido “The
Wicker Man” de 1973.
No controverso "The Wicker Man" |
Um
portfólio que fez Lee fazer parte do triunvirato do terror junto com seus
amigos, Peter Cushing e Vincent Price.
Lee, Cushing e Price - O Trio do Terror |
Lee
e Cushing chegaram a trabalhar juntos várias outras vezes, como em “O Cão dos
Baskerville” e em “ O Monstro de Frankstein”, mas os três trabalharam juntos
apenas uma vez, em 1983 no filme “A Mansão da Meia-Noite”.
Sua presença e as representações que dava aos personagens que interpretava eram tão marcantes que ao interpretar Rochefort, o chefe da guarda do Cardeal Richelieu, na versão de “Os Três Mosqueteiros” de 1973, incorporou ao personagem o uso de um tapa-olho.
Como Rochefort em "Os Três Mosqueteiros" |
E ainda que tal característica não tenha sido descrita no livro
de Alexandre Dumas, esta ficou tão marcante que nenhuma outra representação
posterior ousou mudá-la.
Durante
quase toda a década de 1980, Christopher Lee passou procurando desvencilhar sua
imagem aos filmes de terror, fazendo papéis secundários em geral de vilões,
como no clássico B “Ajuste de Contas” (ou Olho por Olho”) protagonizado por
Chuck Norris.
Mas
também tendo pequenas participações, até em produções televisivas, como na
minissérie “Sadat O Guerrilheiro da Paz” na qual faz o Xá do Irã, Reza Pahlavi,
ou no filme “Charles & Diana” onde interpreta o príncipe Phillip, o pai de
Charles.
E
lógico não poderia de forma alguma deixar de mencionar aqui sua sensacional
participação em “Gremlins 2 A Nova Geração” (1990) no qual faz um geneticista,
chefe de um laboratório, num papel que satiriza de forma genial os papéis que
interpretou nos antigos filmes de terror da Hammer.
E
tal toada de trabalho permaneceu assim durante todos os anos 1990, parecendo
que Lee estava fadado a seguir o rumo de outros atores de sua geração. Ainda
que seja desta época, mais precisamente 1998, o papel que Lee declarava ter
tido mais orgulho de fazer, que foi o de Muhammad Ali Jinah, o fundador do
Paquistão.
Um
filme que jamais foi distribuído em circuito internacional, mas para o qual o
ator tinha grande afeto e que lamentava não ser de conhecimento do grande
público, declarando o seguinte:
“Em 1997… passei 10 semanas no Paquistão com
atores indianos, com atores britânicos, com atores paquistaneses e interpretei
um homem chamado Muhammad Ali Jinnah. Ele foi o fundador do Paquistão, um homem
de grande visão. Incorruptível, grande integridade, um homem brilhante, amigo
de Gandhi, ambos eram advogados.”
Lee considerava sua atuação como Jinnah o melhor de sua carreira |
E
continuava seu relato:
“Eu o interpretei neste filme e sei que é a
melhor coisa que já fiz, de longe. É um filme muito bom e todos nele são muito
bons, e é verdadeiro também. É historicamente preciso e foi muito bem recebido
no Paquistão. Os cinemas ficaram lotados todas as noites, todos os dias durante
três meses.”
Com
o novo século, o cara que foi a inspiração para James Bond, que foi o
Drácula mais icônico do cinema, interpretou personagens históricos como
Rasputin, falava seis idiomas, e era cantor de ópera nas horas vagas, foi
chamado para participar daquilo que até por razões pessoais seria para ele um
papel marcante.
Me refiro a trilogia de “ O Senhor dos Anéis”, na qual Lee interpretou o mago Saruman. E que para o ator tinha um significado especial, pois além de ser um fã de longa data da saga (dizem que a relia ao menos uma vez ao ano), conheceu pessoalmente seu autor, J.R.R Tolkien.
Conheceu J.R.R. Tolkien |
Um
encontro que segundo reza a lenda urbana, ocorreu por mera casualidade quando
se encontraram em pub londrino. Mas
que rendeu boas horas de conversa, e a benção de Tolkien para que caso um dia
fossem fazer uma versão cinematográfica de sua obra, Lee estivesse nela.
Com Peter Jackson nos bastidores de Senhor dos Anéis |
Ainda
no que diz respeito a “Senhor dos Anéis”, houve uma passagem na qual o diretor
Peter Jackson tentava orientar Lee na cena em que Saruman seria esfaqueado em
“O Retorno Do Rei” (cena que aliás só saiu depois na versão estendida e fez o
ator ficar furioso com isto).
Jackson
procurava instruir sobre o som que uma pessoa faz quando leva uma facada, mas
Lee o interrompeu, e mesmo sendo extremamente reservado no que dizia respeito
aos seus tempos de comando na Segunda Guerra, afirmou que sabia muito bem o som
que uma pessoa fazia ao ser esfaqueada.
Foi o Lord Dooku na saga Star Wars |
E
não posso deixar de citar a passagem de Christopher Lee pela franquia “Star
Wars” na qual ele interpretou o Lord Sith, Conde Dooku. Arriscar-me-ia
inclusive afirmar que seu talento e presença foi absurdamente subestimado, e
que seu personagem com certeza com participação mais relevante teria elevado o
nível da coisa toda bem mais.
Com Ewan McGregor nos bastidores de "O Ataque dos Clones" |
Mas
acredito que o feito mais impensável de Christopher Lee foi realizado fora de
campos de batalha ou estúdios de cinema, e tudo começa no ano de 2004.
Há
versões um pouco conflitantes da web de
como tudo se deu, mas a que é mais aceita é de que uma sobrinha-neta de Lee que
era fotógrafa e trabalhava para uma revista de rock, foi fazer um trabalho
fotografando um show da banda italiana de power metal Rhapsody of Fire (que na época ainda se chamava só Rhapsody).
Depois nos bastidores conversando com a banda revelou de quem era parente.
Com o Rhapsody, a porta de entrada para o heavy metal |
Pronto!
Estava aceso o estopim, para uma incrível parceria, e mais um feito na vida de
Sir Christopher Lee!
Pois Luca Turilli, guitarrista e líder da banda, não perdeu tempo em pedir para fazer contato com o ator, que se mostrou bastante interessado na proposta, e o resultado foi uma parceria do ator em cinco álbuns da banda italiana, não apenas narrando, como fazendo um dueto com o cantor Fabio Lione na música “Magic of Wizard’s Dream”.
E
você acha que o headbanger Lee parou
por aí? Que nada!
Em
2010 ampliando suas participações, esteve no álbum dos norte-americanos do
Manowar, “Battle of Hymns XXI”.
Lee fez dois álbuns próprios de power metal |
E
não satisfeito, neste mesmo ano, lançou o primeiro de seus álbuns de
heavy-metal, “Charlemagne: By The Sword and the Cross”, no qual contava de
guitarra em punho a história de seu antepassado Carlos Magno. E que ganhou uma
segunda parte em 2013 com “Charlemagne: The Omens of Death”.
Sobre
esta vertente sua, o grande ator declarou a revista britânica Kerrang:
“O metal é um estilo de vida. Eu sempre fui metal,
apenas não sabia”.
E
como cereja do bolo, se tornou o artista mais velho a figurar no TOP100 da
parada de singles da Billboard ao atingir o 18º com a música “Jingle Hell”, uma
paródia metal para o clássico “Jingel Bell”.
Então
agora, toda vez que você assistir “Forrest Gump”, e pensar na improbidade que
aquilo é, se lembre de Christopher Lee, que não apenas presenciou a história,
mas a fez acontecer!