Existem
alguns finais de estórias, não importa em qual mídia se apresentem, que quando
nos deparamos com eles ficamos com sensações das mais diversas. Seja de um
sabor amargo, chocados, ou até mesmo com a sensação de que nos fizeram de
palhaços.
As
vezes tais finais estão até dentro do contexto da obra, mesmo que não nos
agrade, em outras vezes, parecem uma solução fácil criada por roteiristas
preguiçosos, de qualquer maneira eles fazem parte da cultura pop tanto quanto
super-heróis e fãs-malas.
Lógico
que este artigo não tem como intensão (nem seria possível), citar todos ou a
maioria destes “Finais Tapa na Cara”, apenas com os exemplos aqui citados
mostrar aquilo que foi explanado ali no primeiro parágrafo.
Já
avisando que se você que está lendo não gosta de spoilers, este artigo não é indicado para você (risos).
Para
iniciar, preciso citar um final que me deixou bastante impactado à época em que
o assisti, o do telefilme, posteriormente promovido aos cinemas, “Day After - O
Dia Seguinte”.
O ator Jason Robards protagonizou... |
...um dos finais mais chocantes já vistos |
Filme
oitentista feito para alertar sobre o “merdelê” que um conflito atômico de
grandes proporções poderia gerar, mas que de todos os possíveis e
desesperançosos finais possíveis, optou por mostrar o personagem vivido pelo
veterano ator Jason Robards que era um importante médico na cidade em que
morava, e obviamente de uma classe social mais abastada, em meio à um “surto”
ao ver pessoas nos escombros do que um dia foi sua casa, acabando, assim como o
espectador, levar uma lição sobre o que de fato importa na vida.
"A Família Dinossauro" e seu final coerente |
Só
que se for para falar de fim do mundo, acredito que, ao menos na época, muita
gente tenha ficado meio que travada no sofá de casa por alguns segundos diante do
final de “Família Dinossauros”.
A
série que se notabilizou por um subtexto (muitas vezes nem tão sub assim) que
conversava (e as vezes gritava) sobre assuntos muito reais, nada mais do que
retratou em seu episódio final o que pudemos assistir durante toda a jornada de
Dino, Fran, sua família e amigos, ou seja, o resultado fatídico de toda uma
cultura rasa e de soluções fáceis, que no fim cobrou seu preço.
Mas
quando o fim não vem de uma só vez? E quando ele se arrasta por três ou quatro
capítulos, com os protagonistas de uma série, queridos pelo público sendo tragados
por um turbilhão de infortúnios que nem Hardy Ha Ha, a hiena das animações da
Hanna-Barbera, poderia imaginar?
"Nova York Contra o Crime" |
Foi mais ou menos isto que aconteceu com a aclamada série “Nova York Contra O Crime”. Pois o detetive Booby Simone (Jimmy Smits) de uma hora para outra fica doente e... Bem o resto você pode imaginar. E o pior, que o grande protagonista da série, o detetive Andy Sipowicz (o icônico Dennis Franz), que passou sua maior parte sendo um alcoólatra pouco confiável, quando parece estar vendo sua vida retornar a um rumo bacana, inclusive sendo pai após vários anos, é abalroado pela morte da mulher, deixando-o com um bebê para criar.
Gostaria
muito de dizer que os roteiristas estavam corretos aqui, pois a série, que foi
uma pequena divisora de águas no que diz respeito a linguagem mais realista que
usava, estaria tendo um final coerente.
Mas
não! O final de “Nova York Contra o Crime” é um daqueles casos que resolveram
forçar a realidade até seu limite, e por consequência acabando por
ultrapassá-los, se tornando algo difícil de engolir.
Contudo,
quando faço um rápido exercício de memória, para lembrar de um final “difícil
de engolir”, é impossível esquecer do absurdo final de “Alf O Eteimoso”, a
clássica sitcon dos anos 80, sobre o
alienígena atrapalhado vindo do planeta Melmac, cuja a nave se acidenta por
aqui, e é acolhido pela família Tanner.
"Alf" e seu final... |
Um
episódio que terminava com Alf sendo capturado pelos militares, deixando
principalmente a criançada que acompanhava o programa sem chão, e que segundo
explicações posteriores dos produtores do show, foi concebido apenas como
gancho para uma temporada seguinte que acabou não acontecendo.
...que deixou uma geração perplexa |
Só
que a desculpa esfarrapada nunca colou, e anos depois resolveram tentar conter a
hemorragia com esparadrapo através de um longa-metragem que mostrava qual teria
sido o destino do alienígena mais querido da tevê. Mas a coisa toda é um
verdadeiro desastre no qual o arremedo de roteiro tenta convencer a todos que o
personagem ficaria quieto e de boa ao saber que os Tanner tinham sido enviados
pelo governo para morar na Islândia.
"O Sexto Sentido" - Roteiro bem amarrado |
E
por falar em ser “enviado”, não dá para esquecer do final de um filme que sei
que muita gente deve até ter desconfiado do que estava acontecendo, mas este
escriba aqui em sua humilde humildade admite que se deixou absorver pela trama
e não se deu conta do que estava bem na sua cara, e lógico falo de “O Sexto
Sentido”.
Filme
que admito, apenas no fatídico desfecho percebi que o personagem de Bruce
Willis já tinha sido “enviado” para o outro lado da existência desde o começo
da película.
"O Santuário" e seu final impensável |
Mas
calma, pois os filmes de ação, que em geral são pautados por um grau elevado de
previsibilidade em seus desfechos, afinal qualquer ser humano em uso sadio de
suas faculdades mentais quer ver o herói (as vezes anti-herói, eu sei) vencendo
o vilão e tendo um fim minimamente digno, também possuem representantes com
seus finais inesperados.
Em
“ O Santuário”, filme que figura na nossa lista de “Os 10 melhores filmes de ação dos anos 90”, Luke Novak, personagem de Mark Dacascos, que para sumir do mapa e
fugir dos desafetos tinha se tornado padre, acaba sendo “convocado” devido suas
habilidades extra sacerdotais, para trabalhar da forma mais improvável que o
espectador poderia imaginar para a entidade da qual fazia parte.
Acredito
que você que chegou até aqui neste texto provavelmente deve estar sentindo a
ausência de algum exemplo de animação, não é?
Mas calma, eles existem sim...
O episódio maldito de Superamigos |
Há o censurado episódio "Hitchhike" dos “Superamigos” que já citamos aqui no artigo “Episódios Malditos”, no qual a partir da fala de um policial, fica claro que o bandido preso pelos Super-Gêmeos era um psicopata que já teria feitos outras vítimas anteriormente.
Consegui assistir este episódio tempos atrás, mas a cena final na delegacia acabou sendo editada pelas razões que você já deve imaginar.
A primeira e "tapa na cara" versão de O Cometa Império |
Fora que antes disto, pelos idos da década de 1970, lá no Japão, uma certa obra que passamos a conhecer aqui no Brasil anos depois por “Patrulha Estelar”, surgia nos cinemas nipônicos com um longa-metragem que contava a primeira versão da saga do Cometa Império, e seu final, que promovia a matança completa dos personagens.
E falando em Japão, “Spectreman” o clássico tokusatsu, é bem profícuo em finais tapa na cara, mas talvez o mais famoso (e quase traumático) seja o do episódio “Uma Arma Para Spectreman”, no qual após vencer o monstro criado pelo Dr.Gori, nosso herói se vê obrigado a matar uma monstro fêmea (esta não criada pelo vilão do seriado), que estava furiosa por ter perdido seu filhote quando do embate do protagonista com o monstro-vilão.
E cuja cena final
mostra o que seriam os espíritos da monstra e seu filhote enfim juntos indo
para o céu.
E
por falar em mortes, vou me permitir citar um episódio final que até chegou a
ser escrito, mas que devido a providencial ação de uma filha do autor não
chegou nem a ser produzido.
Tudo
bem! Eu sei! Se não foi produzido, nem deveria estar aqui...
Mas
talvez esta seja minha forma de surpreender vocês (risos).
E
me refiro a nada mais, nada menos, que “Chaves”!
Quase que "Chaves" ganhou o maior "Final Tapa na Cara" de todos os tempos |
Não
é novidade para ninguém que Roberto Gomez Bolanõs, criador e intérprete do
icônico personagem vez ou outra se permitia “pesar a mão”, jogando doses de
drama no roteiro, como no episódio em que Chaves é acusado injustamente de ser
ladrão.
Bem,
com o seriado já tendo seu deadline
estipulado pela Rede Televisa, e bastante descaracterizado do que tinha sido um
dia, Bolanõs resolve colocar um fim ao seu “menino órfão”. E pelo roteiro
escrito, nosso querido Chaves morreria atropelado no último episódio.
E
não, isto não é lenda urbana, pois a filha de Bolanõs tempos depois de sua
morte confirmou que seu pai de fato chegou a escrever este roteiro. Mas que ao
bater o olho no que pai tinha escrito, não parou de perturbá-lo até conseguir
demovê-lo da ideia de matar o tão querido personagem.
Portanto,
finais tapa na cara, são na humilde opinião deste escriba algo que vai
acompanhar a cultura pop por toda sua existência, mas que se não forem muito
bem sedimentados ao longo da estória, derrubam qualquer argumento, por melhor
que este possa ter sido escrito.